Manifesto do Combate
Qual é a luta dos trabalhadores, qual é a luta dos exploradores?
Antes do golpe de 25 de Abril, durante o golpe e desde então existiram sempre dois grandes campos de luta.
A luta dos trabalhadores portugueses e dos povos oprimidos e
explorados das colónias constitui um desses grandes campos, que não tem
por finalidade adaptar o aparelho governamental da burguesia aos
problemas políticos e económicos que surgem aos exploradores, mas sim
acabar com a própria exploração.
Do lado de todas as classes e camadas exploradoras sentia-se a
necessidade de uma remodelação urgente das instituições governamentais e
do próprio sistema de governo, devida fundamentalmente a três questões:
- A situação insustentável da burguesia portuguesa nas colónias, a
incapacidade em que
se viu de vencer militarmente os povos coloniais, foi um dos factores
que tornou mais imperiosamente urgente para a burguesia a reconversão da
sua política e que a levou a procurar,
com a paz militar, chegar a soluções políticas e
económicas neo-coloniais.
- As múltiplas greves e lutas que os trabalhadores portugueses vinham a desenvolver
mostravam à burguesia que o aparelho repressivo do marcelismo estava já completamente
inadequado para tentar conter e reprimir essas
greves. A burguesia queria, pois. instaurar uma «liberdade de greve» ao mesmo tempo que
punha à frente da generalidade do aparelho sindical elementos reaccionários, contrários á prática da greve.
- As classes e camadas exploradoras precisavam também de adaptar o
aparelho governamental para a resolução de problemas económicos graves
que se vinham a acumular sem
que a administração de Marcelo Caetano lhes
conseguisse dar qualquer solução. A inflação,
a necessidade de acrescer o desenvolvimento
industrial, as relações com o Mercado Comum,
a emigração impunham uma reorganização rápida e em grande escala das
instituições do
governo.
De um lado. temos os trabalhadores lutando activamente pela resolução
dos seus problemas, exigindo de imediato uma melhoria do nivel de vida e
de trabalho, e alargando a luta contra a própria exploração capitalista
Do outro lado temos os exploradores, cujo problema essencial é o de
tentar garantir em novas condições a exploração dos trabalhadores
coloniais e dos trabalhadores portugueses.
O golpe do 25 de Abril foi dirigido e orientado pelos exploradores para a defesa dos seus interesses
O grande problema que preocupa a burguesia portuguesa e que a levou
ao 25 de Abril foi: como manter a exploração capitalista e adaptá-la ás
novas condições? Por isso. as massas trabalhadoras não tiveram, nem
podiam ter qualquer papel activo no golpe de 25 de Abril, porque ele não
se destinava a acabar com a exploração, mas a perpetuá-la.
O golpe do 25 de Abril foi pensado em esferas das classes
dominantes, em estreita ligação com grupos financeiros; e foi executado
na pratica por capitães e majores originários de uma burguesia média ou a
ela ligados e canalizado politicamente pelos generais da Junta, dos
quais uns são ligados à grande finança e os outros são mesmo seus
representantes directos.
No seu combate contra a exploração capitalista, os trabalhadores
criam formas de organização revolucionárias, que integram activamente
todas as massas trabalhadoras em luta. O 25 de Abril não se apoiou nas
organizações de luta dos trabalhadores e, pelo contrário, esforçou-se
por afastá-las de qualquer participação no golpe. Se exceptuarmos o
assalto às sedes da Pide e a libertação dos presos de Caxias, Peniche e
da Pide do Porto, que foi conseguida de uma maneira rápida e global pela
acção das massas populares, em todos os outros casos nunca os
trabalhadores tiveram nem qualquer controle nem a mínima interferência
no desenrolar do golpe.
Em resumo: o 25 de Abril não assentou em formas organizacionais
produzidas na luta dos trabalhadores, mas sim nos oficiais do exército,
numa organização burguesa rigidamente constituída que nada tem a ver com
a nossa luta. E nem podia ser de outra maneira, pois o golpe de 25 de
Abril não se integra na luta dos trabalhadores contra o capitalismo, e
sim nas tentativas dos capitalistas para continuarem a exploração dos
trabalhadores em novas condições.
Porque é que algumas correntes políticas querem fazer crer, agora, que os trabalhadores teriam tido um papel preponderante no 25 de Abril?
O carácter exclusivamente militar do golpe não constituiu mistério
para ninguém no 25 de Abril e nos momentos seguintes. Só depois, essas
correntes políticas começaram a afirmar que o 25 de Abril não fora um
golpe militar e sim uma acção em que as massas trabalhadoras teriam
intervindo com preponderância.
Se alguns sectores políticos julgam hoje que os trabalhadores
esqueceram já o que se passou mês e meio atrás e nos tentam convencer de
que interviemos activamente no golpe do 25 de Abril, isso deve-se ao
facto de nos quererem vincular às decisões tomadas pelo actual governo,
sabotando assim abertamente o desenvolvimento da luta dos trabalhadores.
Mais francos são os generais da Junta (Spínola, no discurso ao Conselho de Estado, ou Galvão de Melo
na televisão, por exemplo bem como Salgueiro Maia, um dos mais
importantes dirigentes do Movimento das Forças Armadas, em várias
entrevistas) que reivindicam para as forças armadas o exclusivo do
planeamento e o exclusivo da realização material do golpe. Não se deve
tal franqueza ao amor da verdade, mas tão só à vontade de se afirmarem
bem alto como os únicos autores do golpe de 25 de Abril e, portanto,
como os «libertadores». É falso serem libertadores. A libertação das
massas trabalhadoras, só os trabalhadores a conseguirão, e não capitães
nem generais de qualquer Junta. Mas é verdade serem eles os realizadores
do 25 de Abril O seu a seu dono. e não é dessa glória mas de outras que
a classe operária e as massas trabalhadoras precisam.
A libertação dos trabalhadores só pode dever-se à luta dos trabalhadores
A luta contra a exploração capitalista, que se travava no dia 24 de
Abril, não parou no dia 25 e continuou a travar-se no dia 26. O golpe de
25 de Abril não podia acabar com a luta contra a exploração, porque não
se destinava a acabar com a exploração. Grande parte des greves que
deflagraram depois do dia 25 de Abril vinham já a ser preparadas antes
da data do golpe militar, o que mostra que a luta dos trabalhadores se
desenvolveu e se desenvolve num campo completamente distinto do desse
golpe. O campo em que deve assentar todo o nosso combate é o da luta
contra a exploração.
Não sendo uma acção dos trabalhadores, mas um golpe militar, e não
assentando na organização autónoma das massas trabalhadoras, mas na
hierarquia rígida das forças armadas, o governo saído do 25 de Abril não
poderá nunca desenvolver-se no sentido da libertação do trabalho, no
sentido da instauração de formas económicas e sociais do comunismo e da
luta por uma sociedade sem classes. Nem na Junta de Salvação Nacional,
nem no Governo Civil Provisório, nem no Movimento das Forças Armadas
existe sequer um mínimo vestígio da organização autónoma dos
trabalhadores. Em nenhuma das Instituições do novo regime há qualquer
possibilidade para o desenvolvimento da nossa luta.
O 25 de Abril Instaurou uma liberdade de partidos e a liberdade de
expressão — ou melhor, a liberdade de uma certa expressão. Mas, ao mesmo
tempo, repete em todos os tons e pelas mais variadas correntes
políticas que o proletariado e todos os trabalhadores em geral têm
ganhando pouco mais, de produzir muito mais. Afirmam admitir a greve
mas, ao mesmo tempo e a várias vozes, desencadeiam uma violenta campanha
contra as greves. Em suma, afirmam que primeiro vem a democracia
parlamentar e só depois o aumento dos salários e uma certa reorganização
do trabalho.
Mas o trabalhador nem come democracia nem trabalha no parlamento. Os
nossos interesses imediatos consistem no aumento dos salários e na
reorganização do trabalho nas fabricas existentes. E estes não são os
interesses futuros, mas os mais imediatos. Porque os
interesses futuros não são o aumento dos ordenados, e sim o fim do
trabalho assalariado e da exploração capitalista; nem são a
reorganização das fábricas existentes, mas sim o desenvolvimento de
novas relações sociais de produção, a instauração de um sociedade
comunista.
A nossa luta, nas novas condições em que a burguesia se organizou
depois do 25 de Abril, e o desenvolvimento do combate que travávamos
contra a burguesia antes do golpe militar. Só ai, no combate contra a
exploração — e não nas novas instituições do governo burguês — é que a
nossa luta se deve e pode desenvolver.
As massas trabalhadoras desenvolvem hoje em Portugal uma luta geral à escala de todo o País
Todas as classes activamente interessadas no capitalismo encontram
ampla expressão e liberdade nas Instituições do actual governo. Todos os
explorados são excluídos dessas instituições. A fronteira é, pois,
muito nitlda.
Desta situação resulta que a luta da classe operária e dos restantes
trabalhadores, que desde 1962 vinha somente a deflagrar em lutas
isoladas entre si, se desenvolve agora a nível nacional numa luta geral,
vasta, cada vez mais aguda e em que as lutas particulares se relacionam
sempre mais, na constituição de um processo único. É esta, sob o ponto
de vista dos interesses dos trabalhadores, a característica principal da
actual situação. A luta dos trabalhadores em Portugal deixou de ser
constituída por uma sucessão de lutas particulares interrompidas por
refluxos mais ou menos longos, e desenvolve-se agora numa luta geral em
que todas as lutas particulares tendem a relacionar-se cada vez mais
estreitamente.
Qual o objectivo deste jornal e do trabalho a ele ligado?
Do desenvolvimento da luta geral dos trabalhadores a nível nacional
resulta a função revolucionária que virá a assumir este jornal e o
restante trabalho a ele ligado.
Este jornal propõe-se ser um agente activo na ligação entre si das
várias lutas particulares, divulgando essas lutas e nomeadamente as
experiências organizativas delas resultantes e acelerando por este modo o
desenvolvimento da luta dos trabalhadores enquanto luta geral. É dessas
lutas e do desenvolvimento da luta geral que resultará toda a
elaboração do jornal e o próprio aprofundamento das posições aqui
assumidas. Este jornal é o primeiro dos eixos do nosso trabalho.
Estreitamente ligado com o jornal, está o trabalho de fomentar a
organização de reuniões de massas entre trabalhadores, soldados e
marinheiros, ou trabalhadores com soldados e marinheiros inseridos em
lutas particulares diferentes. Sabemos que é um trabalho difícil, que
exige não só a preparação de inúmeras condições materiais, como a defesa
contra a repressão da burguesia. Mas não há desenvolvimento e
generalização da nossa luta sem a efectivação de reuniões de massas
entre trabalhadores que têm diferentes experiências particulares de
luta. É este o segundo eixo do nosso trabalho.
Quais são as posições práticas que revelam uma atitude revolucionária na luta de classes hoje travada em Portugal?
Todo o nosso trabalho tem como único ponto de referência as posições
práticas assumidas na luta dos trabalhadores. E tem como único
objectivo contribuir para a unificação das várias lutas particulares
numa luta geral das massas operárias e restantes trabalhadores. Não
somos um partido, nem visamos constituir qualquer partido na base do
trabalho ligado com este jornal. Elementos ou grupos de quaisquer
partidos ou sem partido são colaboradores neste trabalho desde que
desenvolvam, na luta dos trabalhadores, posições práticas
revolucionárias.
A análise da luta dos trabalhadores no momento actual e a
experiência dessa luta motra-nos que uma posição revolucionária na luta
de classes, no Portugal de agora, se define minimamente nos pontos
práticos seguintes:
1.º CONTRA A POSIÇÃO REACCIONÁRIA QUE CONSISTE EM CONSIDERAR COMO O OBJECTIVO DO NOSSO COMBATE O APOIO AO ACTUAL GOVERNO DA BURGUESIA, AS MASSAS TRABALHADORAS DESENVOLVEM A SUA LUTA AUTÓNOMA
Várias correntes tentam travar o desenvolvimento da luta dos
operários e de todos os trabalhadores sob o pretexto de que ela pode
assustar alguns generais, ou alguns capitães, ou alguns ministros. Mas
isso corresponde a desarmar os trabalhadores e entregá-los de pés e mãos
amarrados à espera da piedade da burguesia! Os trabalhadores não
depositam em outros a sua libertação. Só a luta dos trabalhadores pode
servir os interesses dos trabalhadores, e a nossa única posição é
reforçar sempre e cada vez mais a nossa luta autónoma. A
contra-revolução, no Chile ou em qualquer outro país, triunfou sempre
por a luta dos trabalhadores não se ter desenvolvido de modo
suficientemente amplo e profundo, e não por essa luta ter ido longe
demais. O único obstáculo à reacção, quer seja a do antigo regime quer a
do actual governo, é o desenvolvimento da luta operária autónoma.
2° A LUTA ANTI-COLONIAL DEVE DESENVOLVER-SE COMO SOLIDARIEDADE ACTIVA E MILITANTE ENTRE OS EXPLORADOS EM PORTUGAL E OS EXPLORADOS AFRICANOS
Os trabalhadores portugueses querem a independência imediata e
incondicional para todas as colónias. Mas não ignoramos que a
independência não resolve, por si, o problema da exploração dos
trabalhadores africanos. Repudiamos todas as perspectivas neo-coloniais
que orientam a linha de actuação da Junta de Salvação Nacional e do
Governo Provisório Civil. Mais grave ainda é a continuação da exploração
neo-colonial através dos grandes imperialismos mundiais. Mas não
podemos esquecer também a existência de exploradores africanos, que vêem
a independência política das colónias como uma possibilidade para
explorarem um pouco mais os trabalhadores de África. Por isso, o apoio
dos trabalhadores portugueses à independência imediata e incondicional
das colónias não pode deixar de passar pelo apoio activo e militante aos
explorados africanos na sua luta contra todas as formas de exploração e
contra todos os exploradores. Essa luta tem como um dos pontos
fundamentais o combate ao racismo, nomeadamente o racismo contra os
povos das colónias e contra os trabalhadores africanos emigrados em
Portugal. Para que a luta anti-colonial se desenvolva como uma
solidariedade intima entre os explorados, é necessário uni-la com a luta
dos trabalhadores na produção, isto é, com a luta nas fábricas e nos
campos, e uni-la também com a luta nos quartéis. A luta anti-colonial
conduzida sobre a base da luta na produção é o eixo do desenvolvimento
revolucionário do anti-colonialismo.
3.º A LUTA DOS TRABALHADORES DEVE DESENVOLVER-SE, DESDE O SEU PRÓPRIO INICIO, SOBRE A BASE DA UNIDADE DE PRODUÇÃO E NÃO PODE SER DELEGADA NOS REPRESENTANTES SINDICAIS
Os trabalhadores não lutam por delegação — lutam eles próprios. É na
acção prática colectiva dos trabalhadores durante as lutas quer por
reivindicações económicas, quer pela reorganização do trabalho, que se
criam formas de organização de massas que constituem a base de
desenvolvimento da revolução comunista. Só a nossa luta prática
constitui o processo da revolução social. Por isso, querer afastar os
trabalhadores da luta prática, considerando que as discussões com os
patrões devem estar fundamentalmente a cargo de uma burocracia sindical
especializada em contratos de trabalho, é pretender castrar a própria
base da revolução social.
4.º NAS CIRCUNSTÂNCIAS ACTUAIS, DEVEMOS APROVEITAR A LUTA PARA A ELEIÇÃO DE DELEGADOS SINDICAIS, AO MESMO TEMPO QUE COMBATEMOS FIRMEMENTE AS BUROCRACIAS QUE DOMINAM AS DIRECÇÕES DA MAIORIA DOS SINDICATOS E QUE DOMINAM A INTER-SINDICAL
As burocracias sindicais isoladas das massas trabalhadoras
pretendem, em todos os casos, convencer os trabalhadores a não lutarem
praticamente, a continuarem a produção inseridos nas estruturas
capitalistas enquanto os senhores delegados sindicais, no segredo das
conversações com o patronato, e devidamente remunerados pelos
trabalhadores, tentam chegar a acordos e conciliações. Nós devemos
combater as burocracias sindicais, que tentam sempre sabotar a luta
prática das massas trabalhadoras porque sabem que serão varridas e
perderão a sua razão de ser com o desenvolvimento dessas lutas práticas.
Mas devemos inserir-nos nos processos de eleição de delegados
sindicais, porque esse nível do aparelho sindical está ainda
directamente ligado às massas trabalhadoras e é possível, por isso, em
muitos casos, que venha a constituir uma parte integrante da luta de
massas e que a dinamize.
5.° DEVEMOS LUTAR POR UM SALÁRIO MÍNIMO VERDADEIRAMENTE NACIONAL E ADEQUADO ÀS NECESSIDADES DOS TRABALHADORES BEM COMO PELA DIMINUIÇÃO DO TEMPO DE TRABALHO E PELA MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E HABITAÇÃO
A diminuição do tempo de trabalho faz parte da luta reivindicativa
que visa melhorar as nossas condições de vida e diminuir os lucros do
patrão. Mas essa diminuição do tempo de trabalho não é só uma medida de
protecção da saúde do trabalhador e de defesa imediata contra o
acréscimo da exploração. O aumento do tempo disponível será também uma
condição importante para aumentar a participação activa das grandes
massas dos explorados na discussão das formas de luta e de todos os
problemas gerais que nos interessam, se sobre essa base conduzirmos um
trabalho de organização de reuniões de discussão. Esse trabalho de
organização dos tempos livres deve estar ligado com as lutas no local de
trabalho e nas zonas habitacionais. A luta pela diminuição do tempo de
trabalho, com este objectivo, deve fazer parte integrante da criação de
condições para um maior desenvolvimento da luta dos trabalhadores contra
a exploração.
O Governo Provisório instituiu um salário mínimo do qual
exclui grande parte da população trabalhadora — devemos lutar
contra este facto. Além disso, tal salário mínimo é demasiadamente
baixo para as necessidades dos trabalhadores. O coro
do governo diz que salários mais altos prejudicariam a economia
nacional. Mas que economia é essa? É a economia capitalista? Se são os
patrões que defendem a continuação dos
seus lucros, compreendemos bem que os representantes patronais não
queiram um salário mínimo mais elevado. Mas porque é que se pretendem
fazer passar por amigos dos trabalhadores
aqueles que, na prática, opondo-se à elevação do salário mínimo,
defendem os lucros do patrão?! Dizem eles que um maior
aumento dos salários levaria à falência de pequenas e médias
empresas e à concentração do capital. A concentração do capital é o
caminho inelutável da economia capitalista e não compete aos
trabalhadores pagarem com o suor do seu trabalho
e com a miséria das suas familias os lucros que permitam a
subsistência dos pequenos e médios patrões. Os trabalhadores
não lutam só contra uns patrões mas contra todos, contra a própria
exploração capitalista. Se a economia nacional não comporta maiores
aumentos de salários, a solução não é a de restringir a paga dos
trabalhadores, e sim a de mudar de sistema
económico. Se é o próprio capitalismo a dizer, pela voz de todos
os seus agentes e servidores, que não pode aumentar suficientemente os
salários, o que significa, portanto, que não serve os
interesses mínimos dos trabalhadores, então o nosso interesse é o de
desenvolver a nossa luta de modo a acabar com o capitalismo.
6.° DEVEMOS DESENVOLVER OS PROCESSOS DE SANEAMENTO E DE REORGANIZAÇÃO PARCIAL DAS EMPRESAS EM LUTA PELO CONTROLO E GESTÃO DE TODO O PROCESSO ECONÓMICO
O governo actual procura canalizar a fúria dos trabalhadores contra a
tirania tentando que a nossa revolta se limite a substituir os
administradores mais comprometidos com o fascismo
por outros menos comprometidos ou por burgueses liberais ou
social-democratas. Além disso, o novo governo procurou aproveitar as
extraordinárias capacidades que os trabalhadores têm
para organizar o trabalho, deixando-os proceder a remodelações
parciais; o marcelismo não conseguira fazer uma adaptação
suficientemente rápida das estruturas administrativas e de
gestão às novas necessidades do capitalismo e, face a tal atraso, os
capitalistas procuram agora canalizar as capacidades
organizadoras das classes trabalhadors sem pôr em causa os
princípios capitalistas fundamentais da hierarquia [ilegível]
da divisão do trabalho feita pelos não-trabalhadores, [ilegível]
...ciso que desenvolvamos os processos de saneamento e de reorganização
parcial das empresas em processos mais vastos. O objectivo dos
trabalhadores não é o substituir os patrões antipáticos por patrões
simpáticos, mas o de acabar com o patronato. O nosso objectivo não é o
de beneficiar o capitalismo pela reorganização parcial das empresas, e
sim o de estabelecer novas relações sociais de trabalho — relações
comunistas. Precisamos de, desde já, começar a pôr em causa não só uns
patrões mas todos os patrões, não só aspectos particulares dos sistemas
de organização capitalistas, mas toda a organização capitalista do
trabalho. Não precisamos de quem divida o trabalho para que nós o
façamos, não precisamos de quem oriente o nosso trabalho. Os
trabalhadores, que tudo produzem, devem organizar toda a produção.
7.° A LUTA DOS EXPLORADOS DO CAMPO É UM DOS EIXOS FUNDAMENTAIS DA LUTA DAS MASSAS TRABALHADORAS
A imprensa diária controlada pela burguesia silencia completamente,
salvo rarissimas excepções, a luta do proletariado agrícola.
É absolutamente necessário unir a luta dos trabalhadores das cidades
com a luta dos explorados do campo. As lutas dos explorados agrícolas
põem problemas diversos, consoante as regiões são de grande ou pequena
propriedade, consoante os tipos de cultura, consoante o grau de
existência de assalariados agricolas que possuam eles próprios pequenas
parcelas de terra e consoante a proporção em que existam pequenos
camponeses. É através de uma ligação estreita com as lutas camponesas e
de desenvolvimento dessas ligações para todos os pontos do pais que se
poderão estabelecer os pontos de demarcação essenciais relativamente à
questão agrária.
8.º O EXÉRCITO E O MILITARISMO SÃO ARMAS DA BURGUESIA QUE IMPORTA DERRUBAR NA LUTA PELO ARMAMENTO GERAL DOS TRABALHADORES
Filhos do povo, os soldados e os marinheiros são separados das
massas trabalhadoras, postos em casernas onde a burguesia os submete a
hierarquias rigidas e a uma disciplina degradante. Pretende, deste modo,
mentalizá-los para que voltem as armas contra os seus irmãos de classe,
os trabalhadores de qualquer país. Por isso, um dos interesses básicos
dos trabalhadores é o de destruírem as estruturas militares e de
combaterem o militarismo. Nós não precisamos de delegar em terceiros a
nossa defesa — armamo-nos e defendemo-nos nós próprios. Neste momento,
há várias lutas de marinheiros e soldados contra a disciplina, contra o
militarismo, contra o encasernamento. É necessário desenvolver ao máximo
todas essas lutas e é necessário fomentar os contactos e, depois, as
reuniões de massas, entre os soldados e marinheiros em luta e os
trabalhadores em luta nos campos e na cidade. Se as lutas dos soldados e
marinheiros se unirem estreitamente com as restantes lutas dos
trabalhadores, ficam assim postas em causa as próprias bases do exército
reaccionário, separado da população.
9.° OS OPERÁRIOS NÃO TÊM PÁTRIA. TODA A LUTA OPERÁRIA TEM QUE SER INTERNACIONALISTA
Foi a burguesia, no desenvolvimento da economia capitalista,
estreitando as relações entre todos os polos de concentração do capital e
fundindo empresas à escala multi-nacional e multi-continental, que
destruiu as velhas nações e tornou caducas as fronteiras nacionais. Mas
essa mesma burguesia, para dividir os trabalhadores, difunde entre nós
uma ideologia nacionalista e racista. Os trabalhadores não podem atacar o
racismo com puras declarações sentimentais. Não é com palavras, mas com
factos, que o internacionalismo se desenvolve. Assim, é necessário
fundir cada vez mais as lutas dos explorados portugueses com as lutas
dos explorados de todo o mundo, e fundi-las ao nível dos próprios
movimentos de massas. O trabalho que se centra em torno deste jornal
abrir-se-á, por isso, às lutas dos trabalhadores noutros pontos do
mundo, desenvolvendo a criação das condições necessárias para a expansão
de uma verdadeira luta internacionalista e anti-nacionalista dos
trabalhadores.
Pensamos serem estes, no momento actual e neste pais, os pontos
práticos de demarcação que distinguem, na vasta luta das classes, a
posição revolucionária dos trabalhadores. O desenvolvimento da luta e o
desenvolvimento da unificação das lutas particulares em lutas gerais
produzirão novos pontos de demarcação práticos e aprofundarão os pontos
existentes. É assim que, no seu próprio desenvolvimento, as massas
operárias e todos os trabalhadores produzem as condições materiais e
ideológicas do comunismo.
Desenvolver a luta autónoma dos trabalhadores e unificar as lutas
particulares numa vasta luta geral — são estas as tarefas principais dos
trabalhadores e de todos os revolucionários.
21 de Junho de 1974
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L'expérience du Journal Combate (1974-1978)
Avec João Bernardo.
A l'initiative du journal avec Rita Delgado et João Crisóstomo.
Avec João Bernardo.
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