Política e Economia Durante o PREC (1974-75)
Ricardo Noronha
Este livro ocupa-se da nacionalização da banca no contexto do processo
revolucionário português de 1974-75. Baseado num vasto acervo de fontes
documentais e inspirado num conjunto de ferramentas teóricas
desenvolvidas por Mario Tronti, Walter Benjamin e Michel Foucault, o seu
ponto de partida é uma interrogação incontornável: por que razão uma
medida que não constava do Programa do Movimento das Forças Armadas e
assumia implicações tão consideráveis, a curto e a longo prazo, obteve
um apoio suficientemente alargado para ser inscrita na Constituição da
República enquanto uma conquista irreversível da classe trabalhadora? A
resposta ensaiada ao longo destas páginas estabelece uma articulação
entre conflitos sociais e economia política, identificando-a enquanto o
centro de gravidade do processo que conduziria à nacionalização da
banca. Nesse sentido, analisa o modo como as lutas sociais contribuíram
para um processo de radicalização cumulativa iniciado no final do Estado
Novo, que ganharia intensidade crescente ao longo do processo
revolucionário. Simultaneamente, tenta compreender por que razão o
diagnóstico da situação económica contribuiu para polarizar o combate
político, cartografando as linhas de força de um debate que conheceu
sucessivas declinações e abrangeu aspetos tão diversos como a inflação, a
legislação laboral ou as relações de propriedade. Num contexto de crise
económica e revolucionária, o setor bancário converteu-se num ponto
crítico da relação entre trabalho e capital: a concessão de crédito
assumiria uma importância decisiva após o 25 de Abril, com os sindicatos
a atribuir aos banqueiros propósitos de desestabilização associados à
prática de “sabotagem económica”; na sequência da nacionalização do
setor, por sua vez, governantes, gestores e sindicalistas propuseram-se
colocar “a banca ao serviço do povo”, no contexto de uma breve
experiência de “transição socialista” cujo eco se faria sentir no texto
da Constituição da República. O caso da banca revela-se assim uma chave
interpretativa privilegiada para identificar o elenco de problemas e o
horizonte de possibilidades que dominou a conjuntura histórica a seguir
ao 25 de Abril. Este livro propõe-se contribuir para o amadurecimento do
campo historiográfico dedicado à interpretação do processo
revolucionário de 1975-75, estabelecendo um diálogo crítico com os
trabalhos de investigação produzidos acerca do tema ao longo dos últimos
anos.
Imprensa de História Contemporânea 2018, 356p.
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